sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Podia ser meu filho.

Quando nos deparamos com esse texto compreendemos de imediato que deveríamos publica-lo em nosso blog.

A chacina no Rio de Janeiro, a violência no Nordeste de Amaralina, bairro de Salvador, nos levam a reflexões sobre o valor que nossos corpos negros e periféricos possuem. Agora, o governo da Bahia duplicando o valor do prêmio pela "eficácia" da PM, que podemos traduzir em mais truculência e morte dos nossos.

Ele nos foi cedido pela Luara Colpa, 28 anos, advogada e militante, de Belo Horizonte - MG:

Estou a parir meu filho preto. Na maca onde a enfermeira impaciente empurra minha barriga.
Me livro da dor pensando em seu futuro:

De uniforme e banho tomado ele desce a ladeira:
- Cuidado ao atravessar a rua! (Ele olha pra trás e sorri)
- Não esquece a merendeira hein filho? - Tá mãe!!
- Esteja bem vestido (para não te confundirem ... com ladrão).
- Não erga a cabeça pro polícia.
Vou franzindo a testa e abaixo o tom de voz:
- Ande com carteira de Trabalho no bolso e apresente-a sempre que abordado.
- Se quiser ter o cabelo colorido, será confundido com bandido. Se quiser homenagear seus ancestrais e fazer dreads e penteados, será chamado de vagabundo.
- Você poderá apanhar na cara – Por que mãe? Porque sim, Não revide
- Você sofrerá revistas vexatórias todas as semanas da sua vida. Porque sim.
- Você será chamado de macaco, "esse preto", "de cor".
- Não ande em grupos pra não ser confundido com arrastão.
- Estude filho, vão falar que as cotas o salvou, que é incapaz. Não dê ouvidos à eles.
- Se você se esforçar muito no trabalho, será chamado de "moreninho até que esforçado" e mesmo que te explorem e expurguem, e que seu salário seja menor que o de todos... usarão seu exemplo, pra justificar a Meritocracia canalha que nos imputam.
- Em qualquer furto na empresa você é o suspeito, filho. Sim.
- Você será mal visto o resto da sua vida na família da sua namorada branca. Porque sim também..

Sua mãe vai sofrer violência obstetrícia no hospital. Porque é preta. Você vai nascer na contramão da vida. Porque alguma igreja um dia disse que não tinhamos alma.
Que nossa cultura era inferior, e mediram nossos dentes e nossas canelas. E nos deram um terço pra tentarmos nos redimir de termos nascido nessa cor.

Quando acharam oportuno, vestiram nossos turbantes e se apropriaram da nossa capoeira. Quando não nos queriam mais, nos forjaram "livres" na Lei do sexagenário. E então fomos expulsos da escravidão para a escravidão real.

Aqui estamos. Somos a história dos centros urbanos, filho. Fomos expulsos do modelo de cidade e do convívio entre pessoas. Nunca fomos pessoas.
Da periferia pra periferia seguimos, expurgados.

Não nos perguntaram onde construímos nossa vida, nossa raiz. Somos sem estória.. A cada despejo fomos para a região metropolitana que nos colocavam. Em cada plano de habitação que meia dúzia de engomados brancos escreveram, fomos encaixotados nos predinhos de 40m². Bem longe. Longe dos olhos dos gringos.

Taparam nossas casas com tapumes pra Copa do Mundo. Botaram camburão na nossa quebrada, pra nos lembrar que desde "o fim" da escravidão, não sabem o que fazer pra tampar nossa existência.

Vão te dizer que mesmo em Estado de Sítio, você tem direito à ir e vir no seu país (que seus ascendentes construíram lajota por lajota.. paralelepípedo por paralelepípedo).

Mas você será executado à luz do dia filho. Na porta de casa. E eu vou lavar seu sangue.

Você será metralhado com 50 tiros. Você e seus amigos pretos. Porque sim. Porque fazem parte da parcela da população que tem que ter regras pra estar vivo. Que é achincalhado desde o nascimento.

Nos exterminarão todos os dias, todos os dias "um crime isolado".
E jogarão a culpa no policial noiado, no indivíduo sob pressão, na legítima defesa. A sociedade não reconhecerá que são todos cúmplices da sua morte.

Eles estão certos, agem em "legítima defesa". Te avisei pra não sair sem a carteira de trabalho filho. Aliás, nem deu tempo de mostrar né? Te avisei pra não encarar o polícia.... Também não precisou. É, não deu tempo.
Vamos entrar pra estatística filho.

Eles só tem a televisão. Só tem a visão longinqua e deturpada do que somos. Eles desligarão a TV quando incomodar. Eles não sabem de mim, nem de você.

Só mais uma mulher sozinha parindo sob violência.
Só mais um preto metralhado. O Deus branco que nos perdoe, somos sem alma.

#Podiasermeufilho

Luara Colpa.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

​Tudo que Aprendemos Juntos" chega aos cinemas de todo o Brasil e o diretor Sérgio Machado contou para o Mídia Periférica tudo sobre o processo de criação

Fotografia: Correio da Bahia
"Não tenho a ilusão de que esse filme – ou qualquer outro – mude a cabeça das pessoas ou a realidade de um país, mas torço para que ele possa estimular o debate sobre o papel das artes na formação dos jovens."


Nesta quinta-feira (3) a exibição do filme "Tudo que Aprendemos Juntos", dirigido pelo baiano Sérgio Machado, chega aos cinemas de todo o país. Aqui em Salvador ficará em cartaz nas salas do  Shopping da Bahia; Glauber Rocha; Cinépolis Salvador Bela Vista e  Cinemark Salvador. 
O filme marcou em outubro a abertura do XI Panorama Internacional Coisa de Cinema, no Espaço Itaú Glauber Rocha, com a presença do diretor, Lázaro Ramos não pode comparecer - o ator interpreta o músico Laerte, que após frustrações em sua carreira como violinista passa a se dedicar ao ensino de música para jovens da periferia de São Paulo. Estivemos presentes na exibição para conferir e nos encantamos com o enredo que envolve histórias de superação por meio da música, frente aos problemas sociais vivenciados diariamente nas periferias - representatividade. Cultura e arte como elementos que contribuem para a transformação da realidade de jovens da periferia. Realidade que acompanhamos de perto e que também buscamos contribuir com a mudança por meio da comunicação comunitária e de ações socioculturais. No mesmo circuito, outra produção do cineasta também foi exibida, o documentário "Aqui deste lugar", ainda sem previsão de estreia comercial na Bahia, que mostra a ascensão de três famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. 

Sérgio Machado, 47, diretor e roteirista, é baiano formado em Jornalismo e começou a carreira no cinema com a direção de dois documentários em vídeo: “Bagunçaço” e “Três Canções Indianas”, realizados durante uma viagem de intercâmbio à Índia. Nos seus 22 anos de carreira no cinema. Dentre as suas direções se destacam: Quincas Berro d’água (2010); Cidade Baixa (2005);  Onde a Terra Acaba (2002). Além de trabalhos com Walter Salles,“Central do Brasil” (1998).
 
O Mídia Periférica teve a oportunidade de entrevistar o Sérgio Machado, ele nos contou mais sobre ambas produções, os processos de criação e os projetos para 2016, inclusive aqui na Bahia. A seguir a entrevista. Deixamos aqui também a indicação para que todos assistam "Tudo que Aprendemos juntos". Não percam! 


MP - Os discursos estéticos dos seus dois últimos longas partem de críticas sociais, qual a sua posição diante da necessidade de haver crítica forte e consistente nas produções cinematográficas? 
Sérgio Machado - Acho importante que os cineastas (e artistas de um modo geral) se posicionem e defendam suas ideias. Acho que a gente tem a obrigação de ter uma visão crítica do país. As vezes tenho a impressão de que as pessoas criticam o Brasil como se fossem marcianos e não tivessem nenhuma responsabilidade pelos nossos problemas. 
Eu não me eximi de expor meu ponto de vista, mas tentei ao máximo fugir de qualquer postura doutrinadora. Tentei ser tão neutro quanto possível e deixar que o espectador chegue as suas próprias conclusões. 
O objetivo do documentário era levar o espectador para dentro das casas, transforma-lo num cúmplice, para que ele partilhasse dos dilemas de cada família. Queríamos entender como as diferentes gerações assimilaram essa transformação. 
Escolhemos a técnica do cinema direto justamente para minimizar nossa interferência. Não fizemos nem perguntas, acompanhamos silenciosamente o que aconteceu com as famílias durante o período de filmagem. As histórias narradas em Aqui Deste Lugar são simples e partem do cotidiano: No Ceará uma menina, ajudada por sua mãe, sonha em cantar numa banda de Forro; No Rio Grande do Sul, uma adolescente enfrenta a oposição do pai para namorar; Na periferia de São Paulo uma doméstica batalha diariamente para manter a família. Não são histórias excepcionais, são relatos singelos, mas que representam de alguma forma os avanços e as dificuldades das camadas mais pobres da população brasileira. 


MP - "Tudo que aprendemos juntos” conta uma história da juventude da periferia e é feito por ela. Além da música como um caminho para o enfrentamento dos problemas sociais, pode perceber essa representatividade associada à autoestima desses jovens? 
Sérgio Machado - Durante as filmagens o que mais me marcou foi o convívio com os meninos. É impressionante o que aconteceu com eles, o quanto eles cresceram e mudaram a partir do filme. Para mim ficou claro que eles não são o problema do país e sim a solução. 
A prática musical dá segurança e aumenta auto estima dos jovens. Tenho convicção de que o país mudaria se a cultura fosse, de algum modo, massificada. Ao aprender a cantar, dançar, tocar um instrumento, ou fazer um esporte o jovem ganha prestigio. Hoje em muitas comunidades carentes do Brasil a referência principal de poder é o traficante de drogas. O país não vai mudar enquanto o prestígio estiver associado à violência (em relação aos homens) e a sexualidade (em relação às mulheres). 

MP - Até que ponto essa produção cinematográfica tem a ver com a sua história de vida? Você é filho de músicos e afirma ter passado parte da infância em uma orquestra. 
Sérgio Machado - Sou filho de músicos, meu pai tocava trompa e era pianista, e minha mãe era fagotista na Sinfônica da Universidade da Bahia. Eles eram estudantes, não tinham como pagar uma babá, por isso cresci brincando entre instrumentos e ouvindo música clássica. Cheguei a estudar piano e violino, mas não levei adiante graças a minha falta de talento musical. 
O filme é, sem dúvida, uma homenagem aos meus pais e trouxe de volta importantes lembranças que estavam perdidas. É também um projeto pessoal porque me sinto próximo do dilema do protagonista – um violinista que tem uma crise nervosa numa audição e se defronta com a possibilidade de não fazer mais aquilo para qual se preparou durante a vida inteira. Consegui avançar no roteiro no instante em que me dei conta do quanto de Laerte havia em mim. Decidi ser diretor de cinema na infância e nunca cogitei fazer nada diferente. O medo do protagonista é também meu medo de um dia, por algum motivo, não conseguir mais filmar.

MP - "Tudo que aprendemos juntos” ganhou em agosto grande repercussão a nível internacional, como foi essa trajetória? 
Sérgio Machado - Lançamos o filme na Suíça no principal sessão do Festival de Locarno na Piazza Grande para 8.000 pessoas. Depois disso, graças às boas críticas, o filme já foi vendido para mais de 20 países. Em seguida fomos para o Festival do Rio, Panorama da Bahia e Mostra de São Paulo. Em todas as sessões a resposta do público foi impressionante. O filme tem uma inegável capacidade de se comunicar com diferentes públicos e pelo que temos visto toca bem fundo em algumas pessoas e muitos se conectam com a mensagem do filme.  A sessão na Sala São Paulo, com a orquestra de Heliópolis foi a mais impressionante que já vi na vida. 

MP - O cinema brasileiro ainda se mantém distante da população, essa distância se torna maior quando incluímos dificuldade de acesso e mobilidade, já que os espaços culturais estão concentrados nos centros das cidades. Qual a sua percepção quanto ao ensino de música nas escolas e como observa a necessidade de iniciativas de produção/distribuição de cinema comunitário que partem das periferias? 
Sérgio Machado -  Acho que a cultura em geral está longe da grande maioria dos brasileiros. Uma enorme parcela da população não frequenta teatros, não lê, não vê filmes, não vai a concertos nem shows. Acho que o país só muda quando a cultura for massificada. O projeto venezuelano, que ensina música a milhões de crianças e jovens deveria servir de exemplo, mas infelizmente iniciativas como o Baccarelli e a Neojibáalcançam apenas uma pequena parcela da população. 
O cinema - que é a mais popular das artes e a de maior alcance - deveria ter muito mais penetração. Devia estar nas escolas, nas comunidades. O Brasil tem muito poucas salas de projeção, a maioria delas em shopping centers e com preços proibitivos para as pessoas que vivem em bairros da periferia. Além disso, obviamente, há a concorrência com os grandes filmes americanos.

MP - O que permeia ambas produções é o diálogo social, a temática que envolve as periferias e o caminho de esperança para mudanças. Uma ponta para o que falta mudar, como você afirma. Poderia comentar sobre a ligação? 
Sérgio Machado - Não tenho a ilusão de que esse filme – ou qualquer outro – mude a cabeça das pessoas ou a realidade de um país, mas torço para que ele possa estimular o debate sobre o papel das artes na formação dos jovens. 
Alguns dos melhores filmes brasileiros nas últimas décadas tem exposto de maneira contundente os nossos problemas. São obras importantes que expõe a nossa ferida como Carandiru, Cidade de Deus, Notícias de Uma Guerra Particular e Tropa de Elite. 
Quando fui convidado para dirigir esse filme tive a sensação de que era importante falar também das pessoas que estão buscando caminhos para resolver nossos problemas. Nos últimos anos têm surgido iniciativas que indicam que a melhor forma de lidar com a violência e a desigualdade é educando e facilitando o acesso à cultura. 
O cinema não tem força para mudar a realidade, mas alguns filmes importantes foram feitos a partir desse desejo. 

MP - Sobre “Aqui Deste Lugar”: foram dois anos de viagens pelo Brasil, quase mil entrevistados, todos beneficiários do Programa Bolsa Família. O que foi mais marcante nessa experiência?
Sérgio Machado -  O principal objetivo do Aqui Deste Lugar era mostrar que o combate à miséria e à fome transcende as questões ideológicas e partidárias. Gostaria que o filme defendesse a ideia de que a desigualdade no Brasil (e no mundo) é aviltante e que qualquer pessoa honesta deveria apoiar iniciativas que a combatam. 
Cada família me comoveu de um modo particular. Fiquei impressionado com a trajetória de Ângela, em São Paulo, a batalha dela ilustra algo que percebemos em diversas regiões do Brasil, que a mulher é quem movimenta esse país. Acho bonita a união dos gaúchos, é uma família estruturada que em breve deve sair do programa. 
Pessoalmente acabei me tornando próximo da família do Ceará e mesmo depois das filmagens tenho acompanhado a luta de Natália e de Helena para manter a família de pé apesar de todas as dificuldades. Fico comovido com a capacidade que elas tem de sonhar e projetar um futuro melhor. 
Fiquei muito comovido quando Jonas, o irmão da Natália, me perguntou se eu gostava do meu filho. Eu achei estranha a pergunta e respondi que meu filho, que era da idade dele, era a pessoa que mais amava no mundo. 
Ele fez um longo silêncio e me contou que o pai dele não se importava e mal o conhecia. Aquilo me deixou abalado, fiquei pensando o quanto eram diferentes as oportunidade de Jonas e de Jorge, o meu filho, que nasceu cercado de confortos e foi amado desde o primeiro dia. Desde então passei a me incomodar mais com os excessos, com o desperdício e a ganância.

MP - Quais foram os critérios para a seleção das famílias? Por que essas três - Ceará, Rio Grande do Sul e São Paulo - e por que as outras duas foram cortadas? 
Sérgio Machado - Viajamos por todo país para conhecer a realidade de cada região e de posse desses dados nos encontramos com especialistas técnicos para que nossa escolha fosse o mais representativa possível. Queríamos que as famílias representassem a média de cada região. Escolhemos famílias compostas por indivíduos de diferentes idades. Acreditávamos choque entre gerações poderia render situações reveladoras. 
Chegamos finalmente a cinco famílias: no Amazonas, no Piauí, no Ceará, em São Paulo e no Rio Grande do Sul. A ideia é que a escolha obedecesse a dados estatísticos objetivos. Quando fomos para a ilha de edição e chegamos a um primeiro corte percebemos que era impossível nos aprofundarmos nas cinco famílias e cortamos as famílias do Amazonas e Piauí. 

MP - Você teve a oportunidade de presenciar a reação dessas famílias ao se depararem com o registro de suas histórias nas telas do cinema? Qual a sensação pra você? 
Sérgio Machado - Quem vem nos acompanhando durante os lançamentos é Natalia - a jovem cantora da família cearense. Viajamos juntos por todo Brasil. Ela gostou de se ver na tela e virou uma espécie de embaixatriz do filme. Foi bacana conviver vários dias com ela, fiquei impressionado com a sede que ela tem de aprender e a abertura para as novidades. 

MP - Como você se coloca diante os discursos de ódio, sobretudo na internet, quando o assunto é o Bolsa Família? 
Sérgio Machado - Na verdade o discurso do ódio vai além do bolsa família. Tenho assistido com preocupação e tristeza a propagação do discurso racista, homofóbico, o crescimento da intolerância religiosa. Numa sessão do documentário que tivemos em Recife um jornalista chegou ao cúmulo de agredir com palavras pesadas a Natalia, disse que ela não tinha futuro e que não ia para lugar nenhum. Eu fiquei perplexo, parece que algumas pessoas perderam a vergonha da própria mesquinharia. Ninguém tem o direito de falar uma coisas dessas para um jovem (ou para qualquer pessoa). Mas (felizmente) a maioria das pessoas tem entendido o recado do filme. 
Meu sonho é que as pessoas que assistissem ao filme tivessem a sensação de que o dinheiro gasto para combater a fome e diminuir o abismo social no país é o melhor investimento que se pode fazer. Acredito que é e intolerável  que alguém passe fome num país rico em recursos e que não está envolvido em uma guerra ou no meio de uma catástrofe natural. 

MP - Quais os projetos em vista, sobretudo os cinematográficos? Tem coisa boa prevista aqui na Bahia, em 2016, juntamente com Lázaro Ramos e Wagner Moura? 
Sérgio Machado - Estou trabalhando em diferentes projetos. Um deles, A Luta do Século – sobre a rivalidade de Reginaldo Holyfield e Luciano Todo Duro - está quase pronto e será lançado no inicio do ano que vem. Estou montando um núcleo de desenvolvimento de projetos em Salvador com as Produtoras  Ondina Filmes e Janela do Mundo - do qual participam Lázaro Ramos e Wagner Moura, Bernard Attal, Gabriela Almeida e Ricardo Calil. 
Ano que vem vou filmar o longa metragem O Adeus do Comandante – inspirado na obra de Milton Hatoum. Lázaro e Wagner devem fazer o filme comigo: as filmagens ocorrerão na Amazônia. Estamos só afinando o roteiro para começar a produção. 
Estou também fazendo - em parceria com Walter Salles e a Gullane Filmes - o desenho animado A Arca de Noé inspirado nas poesias de Vinicius de Moraes. Pretendo também fazer um documentário sobre o fotógrafo Pierre Verger no ano que vem. 
Além desses projetos - que já estão em andamento - estou desenvolvendo alguns roteiros em parceria com amigos. 

Sinopse de "Tudo que Aprendemos Juntos

Laerte é um músico promissor que sofre uma crise em plena audição para uma vaga na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Ele perde a chance de trabalhar na maior orquestra sinfônica da América Latina e, frustrado e com problemas financeiros, vai dar aulas na favela de Heliópolis. 
Na escola, cercado por pobreza e violência, redescobre a música de forma tão apaixonada que acaba por contagiar os jovens estudantes. “Tudo que Aprendemos Juntos” é inspirado na história real da formação da Orquestra Sinfônica de Heliópolis e conta a emocionante saga de um músico e seus alunos, que tiveram suas vidas transformadas pela arte. 

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Senado realiza audiência no Rio de Janeiro para investigar assassinato de jovens

 Rio figura em 11º lugar no País em número de assassinato de adolescentes


A principal causa de mortes de jovens entre 16 e 17 anos no Brasil é o assassinato. Entre 1980 e 2013, houve um aumento de 640% nos homicídios de adolescentes no País. E a maior parte se deu por armas de fogo. Esses dados fazem parte da pesquisa Mapa da Violência 2015 – Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil, apresentada em junho pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz durante audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga o assassinato de jovens no Brasil. Em 1980, o vilão das mortes entre jovens era o acidente de trânsito, responsável por 12,7% do total, enquanto que 9,7% dos jovens nessa faixa etária morriam assassinados. No entanto, em 2013, essa porcentagem chegou a 46%, ou seja, de um total de 8.153 óbitos de pessoas nessa idade, 3.749 foram homicídios. De um total de 56 mil pessoas assinadas por ano no País, 53% são jovens.

Somente no Rio de Janeiro – Estado que representa o 11º lugar no ranking nacional de assassinato de jovens segundo o Mapa da Violência 2015 – foram assassinatos 323 jovens em 2013, uma taxa de 62,5 mortes para cada 100 mil adolescentes entre 16 e 17 anos. O Estado que registra maior taxa de mortalidade entre os jovens é Alagoas, com 147,0 a cada 100 mil; enquanto o de menor taxa é Tocantins, com 13,8. Para debater o assassinato de jovens no Rio, a CPI do Senado realiza audiência pública a partir das 9h30 do próximo dia 6 de novembro, na sede da OAB-Rio de Janeiro (Av. Marechal Câmara, 150 – Centro). 

Para a audiência, foram convidados representantes dos movimentos e organizações Anistia InternacionalViva RioObservatório de Favelas e Grupo Mães de Acari, entre outros representantes de organismos ligados às áreas de direitos humanos e de segurança pública, tais como Secretaria Estadual de Segurança Pública, Juizado da Criança e do Adolescente, Polícia Militar e Polícia Civil e Defensoria Pública.  Também foram convidados pesquisadores e especialistas como o sociólogo Michel Misse, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); o delegado Orlando Zaccone; Robert Mugah, especializado em segurança e desenvolvimento e diretor de pesquisas do Instituto Igarapé; e o antropólogo e cientista político Luís Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública. 
                
Segundo a presidente da Comissão, senadora Lídice da Mata (PSB-BA), “a CPI é extremamente importante porque irá garantir a investigação de uma situação que aflige a população brasileira, mães e pais de família que perdem seus filhos diariamente nas periferias das grandes cidades”. A parlamentar reforça a necessidade de se investigar e propor políticas públicas voltadas aos jovens entre 16 e 27 anos de idade: “Trata-se de uma agenda extremamente importante para a juventude brasileira”, afirmou.

Morrem mais jovens negros - Ainda segundo o pesquisador do Mapa da Violência, para cada jovem que morre assassinado na Áustria, morrem 250 no Brasil. A maioria das vítimas são homens, negros, de baixa escolaridade, pobres e moradores das periferias das cidades. Também morrem três vezes mais negros do que brancos: em 2013, foram assassinados 703 adolescentes brancos de 16 e 17 anos no Brasil e 2.737 adolescentes negros na mesma faixa etária. Naquele ano, a taxa de homicídios de adolescentes brancos de 16 e 17 anos foi de 24,2 para cada 100 mil, enquanto a taxa equivalente de negros foi de 66,3 por 100 mil. A vitimização negra foi de 173,6%, isto é, morrem, proporcionalmente ao tamanho das respectivas populações, 2,7 vezes mais adolescentes negros do que brancos.

Outra pesquisa, realizada em 2012 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apontou que mais de 42 mil adolescentes, entre 12 e 18 anos, poderão ser vítimas de homicídio nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes até o ano de 2019. Isso significa que, para cada grupo de mil pessoas com 12 anos completos em 2012, 3,32 correm o risco de serem assassinadas antes de atingirem 19 anos de idade. A taxa representa um aumento de 17% em relação ao ano de 2011. Adolescentes negros têm quase três vezes mais chance de morrer assassinados do que os brancos, segundo o Unicef. Outro fator é que a maioria dos homicídios é cometida com arma de fogo. De acordo com outro estudo, o Mapa da Violência 2014, em 2012 foram 473 mortes violentas de meninos entre 10 e 14 anos; e 9.295 adolescentes e jovens com idade entre 15 e 19 anos assassinados no Brasil, o que equivale a 28 mortes por dia.

Sobre a CPI - A CPI foi instalada em maio no Senado e o relatório final está previsto para ser apresentado no início de fevereiro de 2016. Desde a instalação, a Comissão já realizou 22 reuniões, das quais 14 foram audiências públicas. Outras 14 audiências estão previstas até o final do ano, incluindo a do Rio de Janeiro.  Nos estados, já foram realizadas audiências em Recife (PE), Manaus (AM), Natal (RN) e Boa Vista (RR). Estão previstas, ainda, audiências em Mato Grosso, São Paulo, Salvador, Luiziânia (GO) e sertão pernambucano.

                Compõem a CPI, como membros titulares, além da senadora Lídice da Mata, propositora e presidente da Comissão, e o relator Lindbergh Farias, os senadores Paulo Paim (PT-RS), como vice-presidente; Roberto Rocha (PSB-MA), Ângela Portela (PT-RR), Telmário Mota (PDT-RR), Simone Tebet (PMDB-MS), Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e Magno Malta (PR-ES).  Como suplentes, participam os senadores Humberto Costa (PT-PE), Fátima Bezerra (PT-RN) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).  

Dados oficiais – O relator Lindbergh Farias apresentou requerimento para que a CPI solicite às autoridades dos poderes Executivo e Judiciário de todos os estados e do Distrito Federal que forneçam informações sobre a quantidade de jovens entre 12 e 29 anos mortos entre janeiro de 2014 e outubro deste ano em intervenções policiais. A CPI também irá verificar a raça e o sexo das vítimas, o número de jovens desaparecidos no mesmo período e a quantidade de policiais assassinados. “Haverá um compromisso oficial do Senado, assumido pelos pesquisadores que receberem os dados, de não divulgar as identidades das vítimas nem dos seus familiares”, explicou o senador. O relator quer ainda ter acesso ao número de inquéritos de “autos de resistência” ou morte em decorrência de intervenção policial encaminhados ao Ministério Público de cada Estado entre os anos de 2007 a 2014.

Próximas ações - Secretários de Segurança do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Ceará serão convidados para apresentar no Senado dados e indicadores sobre homicídios de jovens em seus estados nos últimos anos. Requerimento com esse objetivo foi apresentado pela senadora Lídice da Mata. Ela lembra que uma das preocupações levantadas por pesquisadores e entidades que atuam nas áreas de segurança pública e de direitos humanos é “a ausência de dados qualificados para que seja possível realizar um diagnóstico preciso sobre as diversas nuances das mortes violentas de jovens a fim de propor medidas mais efetivas de enfrentamento do problema”. Além da audiência pública com os secretários, a CPI também promoverá uma audiência no Senado para abordar o tema da violência, para a qual serão convidados a psicanalista Maria Rita Kehl e os jornalistas Gilberto Dimenstein e Caco Barcellos.
IMPORTANTE: o Portal do Senado disponibiliza a íntegra dos documentos e estudos apresentados na CPI: http://legis.senado.leg.br/comissoes/audiencias?codcol=1905)

SERVIÇO

Audiência pública da CPI do Assassinato de Jovens no Brasil (Senado Federal)
Dia e horário: Sexta-feira, 09/11/2015 – 9h30
Local: Auditório da OAB-RJ (Av. Marechal Câmara, 150 – Centro)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cinema, Juventude e Esperança.

Assistir ao filme TUDO O QUE APRENDEMOS JUNTOS, foi como ver a vida acontecer na tela do cinema, não apenas pela maneira com a qual o diretor resolveu contar aquela história, mas também a forma como essas histórias, recorrentes na vida de quem mora nas periferias do Brasil, foram interpretadas. A escolha  de um elenco formado por jovens da periferia deu veracidade ao texto, pareciam que eles estavam ali contando um pouco das suas vidas, sem roteiro a seguir. Lázaro Ramos foi a melhor escolha para fazer o papel do professor Laerte, ele também, menino da periferia de Salvador, deu veracidade aquele papel de mestre e aprendiz.

Quando nós do Mídia Periférica, resolvemos iniciar o nosso projeto de cinema de rua, o "Cine Mídia Periférica", a nossa proposta sempre foi levar pra as comunidades filmes que falassem a nossa língua, que fossem produzidos pelas pessoas da periferia, contassem a nossa história, porque a gente percebeu a importância de termos a nossa própria voz, a importância da representatividade, e nesse filme, a protagonista é a vida dos jovens da comunidade de Heliópolis (SP).

Com uma trilha sonora basicamente de rap brasileiro, contrastando com a música clássica que permeia toda a trama, o filme mostra que nenhuma cultura é melhor do que a outra, sacada genial da equipe do longa. E reitera o que a periferia diz há muito tempo: existe cultura na favela, independente do que o resto da sociedade determine como arte, independente dos projetos sociais que ali se instalem. 

O que fica ao final é a certeza de que a juventude é de fato o futuro, mas pra que dê certo, é preciso um olhar sem preconceito, a valorização e o empoderamento desses jovens.

Recomendamos fortemente! Assistam!
A estréia nacional será em 03 de dezembro de 2015.




Na sexta, 30 de outubro, estaremos presente na estréia de outro filme do Diretor Sérgio Machado: AQUI DESTE LUGAR, o filme mostra a transformação na vida dos brasileiros que viviam na extrema pobreza.

SERVIÇO: Lançamento do filme AQUI DESTE LUGAR.
QUANDO: 30/11/2015 às 13:45
QUANTO: R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia)

Sinopse:

Nos últimos dez anos, milhões de famílias brasileiras cruzaram a linha da pobreza extrema. Essa história é contada em ‘Aqui deste lugar’ através de três famílias espalhadas pelo nosso país-continente que compõem o retrato da transformação do Brasil e da forma como ela afeta cada indivíduo. O documentário mostra como as diferentes gerações assimilaram essa mudança e como está a nova família que nasceu sem eletricidade e hoje passa o dia em uma lan house

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Mídia Periférica marca presença no show dos Racionais MC’s

Na noite de sábado (17) o Mídia Periférica esteve presente na turnê “Cores & Valores” dos Racionais MC’s no Cais Dourado. Além da presença dos sortudos que ganharam a promoção realizada pelo MP em parceria com a produtora Boogie Naipe, estávamos lá fazendo a cobertura fotográfica do Show!

O grupo de rap voltou à capital baiana trazendo a sua turnê comemorativa dos 25 anos de carreira, em uma única apresentação, encerrada já na madrugada de domingo. Além das novas faixas de “Cores & Valores” o show foi marcado por grandes sucessos como Negro Drama, Diário de Um Detento e Vida Loka, essas, cantadas em coro por um público empolgado!

O Racionais apresentou um espetáculo completo para seus fãs, lançando mão de tela de leds, fumaça e uma áurea de mistério, superaram todas as expectativas! A noite rolou no maior clima de paz, deixando na gente que tava lá assistindo, a vontade de estar no show de encerramento dessa turnê, lá na Fundição Progresso (RJ). A noite contou também com shows de abertura do grupo Nova Era, MC Vandal e Dj Nai Sena e participações especiais de outros artistas da cena hip hop de Salvador.

Os Racionais MC’s surgem nos anos 80 na periferia de São Paulo. De lá pra cá os rappers paulistas Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay vêm abordando em suas letras temas sociais da periferia,  denúncias e conscientização política. O álbum mais recente “Cores e Valores” foi lançado em novembro de 2014, trazendo no repertório quinze faixas inéditas.

O rap é reconhecido pela representatividade junto às juventudes das periferias, refletindo na formação da identidade, senso crítico e sentimento de pertencimento. Através dessa cultura de rua os rappers trazem nas letras a construção de narrativas sobre violência, desigualdade social, racismo e violação dos direitos

Mais significante do que ouvir a voz da periferia e sentí-la sendo representada, foi compartilhar o brilho nos olhos e realização de um sonho profissional e pessoal de um jovem negro, nascido e criado em Sussuarana, o Diego Pixaim, que realizou a cobertura fotográfica pelo mídia Periférica. Fã dos Racionais desde os oitos anos, ele afirma que cresceu ouvindo os rappers e tendo-os como referências:

"Quando fiquei sabendo que o MP tinha me selecionado pra fazer essa cobertura fiquei louco, não acreditava que iria em um só dia realizar dois sonhos: fotografar um grande show e conhecer de perto esses caras que sou fã desde criança. No momento eu não sabia se registrava as cenas ou se gritava e cantava euforicamente. Falei com o Mano Brown e o abracei com lágrimas nos olhos, me senti realizado! Só tenho a agradecer ao MP por essa oportunidade. Espero que como essa, muitas outras possam vir!", contou Pixaim sobre a experiência. E concluiu com um trecho da música "Diário de um detento": "AQUI ESTOU, MAIS UM DIA!"

Representatividade, reverberação e empoderamento da juventude de periferia. Aqui tem jovem negro da quebrada ocupando espaços, protagonizando lutas e ações, tendo vez e se fortalecendo coletivamente. 

De onde a gente vem tem mais, muito mais!







sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Jovens se reunem na capital para o último Encontro Interterritorial de Juventude do Leste Baiano

Por Bruna Calasans.

O Mídia Periférica realizou cobertura colaborativa nos dois dias do Encontro Interterritorial de Juventude do Leste Baiano. As atividades foram iniciadas com o credenciamento na manhã de quinta-feira (08), no auditório do Hotel Sol Victória Marina.
Segundo a organizacão do evento 103 delegados do território Metropolitano de Salvador e 24 do Recôncavo Baiano (além dos participantes observadores) estiveram reunidos dialogando as necessidades e fortalecendo a pauta das propostas surgidas nas etapas municipais das Conferências de Juventude. 
O primeiro dia foi marcado por palestras e contribuições do plenário. Hoje pela manhã a programação foi retomada com o balanço da política estadual,  apresentado por Jabes Soares (coordenador estadual de juventude). Após o almoço os participantes foram divididos em grupos de trabalhos, tendo em vista o debate sobre as necessidades territoriais e a formulação de propostas que irão subsidiar a construção do Plano Estadual de Juventude. Ao final da tarde as propostas foram aprovadas, encerrando com a eleição de 82 delegados do território Metropolitano de Salvador e 14 do Recôncavo Baiano.
As etapas que antecedem a Conferência Nacional buscam oportunizar espaços de debates e diálogos com atenção para o desenvolvimento e aplicação de políticas públicas para a juventude, potencializando a participação social e o protagonismo juvenil diante da formulação de propostas e estratégias que contribuam com a mudança do Brasil. Os diálogos priorizaram os eixos temáticos do Estatuto da Juventude, pautando os direitos que devem ser assegurados, sobretudo: a emancipação e autonomia juvenil, bem-estar juvenil, desenvolvimento da cidadania e organização juvenil, apoio à criatividade juvenil e reconhecimento das diversidades.
O evento foi promovido pelo Conselho Estadual de Juventude (Cejuve) em parceria com a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS). E antecede a Conferência Estadual de Juventude, que acontecerá entre 29 e 31 de outubro, também em Salvador.
A ocupação de espaços de deliberação como esse pela juventude é de extrema importância, propiciando a participação social, reflexão crítica e o protagonismo juvenil. A juventude precisa ser empoderada, ter vez nas decisões e estar atenta ao monitoramento das políticas públicas.


  



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Salvador (BA) realiza Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os desafios no mundo de trabalho”

Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os Desafios no Mundo do Trabalho” acontece nesta sexta (25/09), às 9h, no Centro Cultural da Câmara Municipal de Salvador (BA). Com a proposta de que jovens representantes do poder público, conselhos, organizações não governamentais e agências internacionais debatam sobre os possíveis caminhos para que as políticas aumentem sua contribuição a experiência de uma juventude plena de direitos.

O desemprego de jovens negros, principalmente na região nordeste, o processo de precarização do trabalho, que atinge os jovens e o pouco espaço que as propostas de geração de trabalho, renda e qualificação profissional tem tido no país, são questões a serem discutidas dentro do seminário.

Serviço:
O quê: Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os Desafios no Mundo do Trabalho”
Onde: Centro Cultural da Câmara Municipal, Praça Tomé de Souza, Centro, Salvador (BA)
Quando: 25/09, das 9h às 17h.

Para fazer sua inscrição, clique aqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Filme Capitães da Areia será exibido na Baixa da Paz, em Sussuarana, neste domingo (27).

“A sessão de cinema aberta à comunidade faz parte do projeto Cine Mídia Periférica, idealizado pelo Grupo Mídia Periférica” 


No próximo domingo (27/09), o projeto Cine Mídia Periférica, irá exibir o filme “Capitães da Areia”, da cineasta Cecília Amado, para a comunidade da Baixa da Paz, localizada no bairro de Sussuarana. Esta será a segunda exibição de filmes promovida pelo projeto, que acaba envolvendo toda a comunidade. Com um telão e distribuição de pipoca e refrigerante, a ideia é proporcionar aos moradores um pouco da experiência de cinema. A única exigência é que cada morador leve seu banquinho, para colaborar com a atividade.

A segunda sessão se dá pelo sucesso que foi a primeira exibição, quando cerca de 50 pessoas se juntaram para assistir ao filme "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos". A expectativa é que a próxima sessão possa levar 100 pessoas ao local. “Para o jovem de classe média, ir ao cinema pode ser um lazer rotineiro. Mas para a maioria das pessoas que mora nas periferias e não tem acesso à cultura, esse é um lazer quase raro, seja pela dificuldade de locomoção, seja por questões econômicas”, destacou o idealizador do projeto, o jovem Enderson Araújo.

A exibição do filme Capitães da Areia conta com a colaboração da cineasta Cecília Amado, que emprestou o filme, além da cooperação do “Grupos de Apoio Cultural da Comunidade de Sussuarana (GACCSS)”, do programa governamental Estação Juventude, que emprestou os equipamentos, e da produtora Tenda dos Milagres.

Sobre o filme

Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora, personagens imortalizados na obra de Jorge Amado, ganham as telonas do cinema em Capitães da Areia, filme assinado por Cecília Amado, neta do escritos baiano Jorge Amado. Assim como no romance publicado na década de 1930, a narrativa traz a história de um grupo de crianças e adolescentes abandonados por suas famílias que crescem nas ruas de Salvador, praticando assaltos, e fugindo da polícia enquanto lutam para sobreviver. Liderada por Pedro Bala, a trupe é conhecida por Capitães da Areia pela facilidade que tem de se camuflar sem deixar pistas e sem ser notada. Assim, ao longo de um ano, os garotos encaram diversas aventuras, realizando sonhos e vivendo reais pesadelos.

Sobre o Cine Mídia Periférica

O Cine Mídia Periférica é um projeto idealizado pelo Grupo Mídia Periférica. O objetivo é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais. Além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação. A ideia é exibir sessões quinzenais, com o objetivo de atingir todas as áreas da comunidade. Os filmes a serem exibidos têm temática voltada a questões sociais que servirão de base para discussões e outras atividades pela comunidade.

Serviço
Exibição do Filme Capitães da Areia
Data: 27 de Outubro
Horário: 17h
Local: Campo de Futebol, Baixa da Paz - Sussuarana
Contato: Enderson Araújo - 9220-2546

sábado, 19 de setembro de 2015

Emicida, Dandara Marques e Domenica Dias na Globo Falando Sobre o Racismo no Brasil. É Dedo na Ferida.

"Essa coisa de democracia racial no Brasil não existe, essa coisa foi inventada. A democracia racial no Brasil é assim, o táxi não para pro negro mas a viatura para"
Fotos: Reprodução do Facebook e Google.
O Rapper Emicida, foi o convidado do programa Altas Horas, da TV Globo, que foi ao nesse Sábado (19.09). O Programa tem um quadro, onde pessoas contam histórias reais vividas, no programa desse sábado, foi discutido o Racismo, na oportunidade, o Serginho Groisman bateu um papo com a jovem negra Pernambucana, Dandara Marques, que foi vitima de Discriminação Racial em uma rede social, após ter uma foto publicada por um paulista, com comentários do tipo "Me dê uma caixa de fósforos que faço progressiva nessa infeliz", se referindo aos cabelos de Dandara que também é gestora ambiental. Segundo Dandara, as palavras foram 'fortes'. "Eu sempre passei por isso, mas não de uma forma tão explícita assim. Ele me colocou numa situação muito aberta, numa rede social, todo mundo teve acesso a isso", comentou. Ao iniciar sua fala, Dandara explicou para o publico de auditório e os telespectadores, quem foi Dandara “Para quem não sabe, Dandara militante negra, guerreira aliada de Zumbi dos Palmares, eu fui e sou Dandara”. Leiam mais aqui: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/09/pernambucana-e-vitima-de-comentarios-racistas-em-rede-social.html.

Antes de abrir o quadro onde discorreria a conversa com a Dandara, o apresentador fez uma pergunta sobre o racismo para uma garota que estava na plateia do programa, era a Domênica Dias, filha do Mano Brown, na oportunidade, o apresentador questionou a jovem, sobre o racismo, ela respondeu que o racismo é mais violento, quando voltado contra a mulher negra, ele tem uma força de destruição muito maior, mas podemos perceber isso nas produções das telenovelas, onde as mulheres negras aparecem como objetos de sexualização ou empregadas domesticas serviçais, poucas foram as que tiveram posição de poder.

Durante o programa, Serginho questionou o Emicida sobre as questões raciais no Brasil, algumas pessoas assistiam o programa mais para ouvir as rimas do Emicida ou ouvir os clássicos dos sambas de Jorge Aragão e Diogo Nogueira, mas o que impressionou de verdade foi ouvir “Passarinhos” uma das novas faixas do Emicida, e ouvir seus posicionamentos quanto ao Racismo, ao citar na sua primeira intervenção que o Brasil é um País Racista, pois mata 77% de jovens negros ao ano.

Já a sua segunda intervenção, vem depois que o também convidado Marcus Caruso - ator-branco-sabe-tudo - resolve falar sobre racismo e defender a democracia racial. Emicida tem que explicar pra ele:
1 - O Brasil é assim: Quando a miscigenação clareia, às pessoas aplaudem e quando escurece a sociedade condena. O racismo é perverso e cruel.
2 - Essa coisa de democracia racial no Brasil não existe, essa coisa foi inventada. A democracia racial no Brasil é assim, o táxi não para pro negro mas a viatura para...
O Artista foi aplaudido de pé, e citou que estamos em obras, acredito que ele se referia que o país ainda tem jeito, que a militância é essencial para mudar o cenário, ter pretos assumindo postos, o Rap entrando nas programações das grandes emissoras, é um avanço, porém os negros ainda incomodam, exemplo de Dandara ao estampar sua beleza negra. A branquitude é mesmo um lugar de poder. A branquitude é mesmo uma posição de privilégio.

Obrigado Dandara e Emicida e Domenica, vocês colocaram o Dedo na Ferida de um país racista, sexista, homofóbico e desleal com a sua maioria, que somos nós negros.

Texto: Enderson Araujo
Colaboração: Felipe Freitas

Conferências Livres: Crespas e Cacheadas, Grafiteirxs e Comunicadorxs

"As conferências livres estão acontecendo desde maio deste ano em diversos estados, com o objetivo de construir propostas para serem discutidas na 3ª Conferência Nacional de Juventude, que acontecerá em dezembro, em Brasília".


As Conferências Livres de Juventude “Crespas e Cacheadas”, “Grafiteiras e Grafiteiros” e“Comunicadoras e Comunicadores” é uma iniciativa para a discussão de Políticas Públicas de Juventude (PPJ) a partir do ponto de vista inovador destes setores. O objetivo é fomentar os debate que norteiam as politicas de juventude, entre grupos que não costumam disputar espaços tradicionais da política, mas organizam uma importante intervenção nos espaços em que militam. As conferências acontecerão no Cine-Teatro Solar Boa Vista, na comunidade do Engenho Velho de Brotas, no dia 20 de setembro, e será seguido de um debate com a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) sobre “O lúdico e a identidade na disputa das cidades”.

A juventude de Salvador, sofre de uma profunda carência de políticas públicas específicas. Recentemente foi criada uma Sub-Coordenação de Juventude, vinculada à Secretaria de Promoção Social, mas que ainda não se consolidou como um instrumento para apropriação das e dos jovens da cidade. Além disso, a ausência de políticas públicas nas áreas de Direito à Cultura, Direito à Cidade e Direito à Comunicação, bem como as péssimas condições de mobilidade e a forte presença da violência urbana, através dos conflitos entre facções do tráfico e da intervenção desastrosa da Polícia Militar, são elementos que apontam um contexto de muita dificuldade para o desenvolvimento da cidadania da juventude de Salvador. Também não existe na cidade mecanismos efetivos de participação social, não existindo Conselho Municipal de Juventude e uma presença muito inexpressiva de jovens nos conselhos existentes, a exemplo do de Mulheres e de Saúde.

Por outro lado, a juventude soteropolitana transborda capacidade de resistência e subversão das condições precárias de convívio social, em forças produtivas voltadas tanto para o trabalho/sobrevivência, quanto para a produção de cultura e formas alternativas de organização. Grupos musicais, bandos de teatro, grupos de poesia itinerantes, jovens engajados e engajadas na arte urbana, nos esportes, na cultura de modo geral, produzem resistência ao ocupar os espaços públicos da cidade com suas expressões e múltiplas identidades.

Enderson Araújo é Co - Fundador do Mídia Periférica.
A juventude soteropolitana é uma síntese entre o velho e o novo, entre a resistência e a ousadia, entre a memória e a projeção de novas perspectivas de futuro. É preciso que este setor seja encarado como estratégico na construção de um projeto de cidade e, a partir de seus territórios, contribuam para a elaboração de políticas públicas de juventude em todo o país.

Nesta etapa, os participantes discutirão sobre os desafios da juventude negra, tendo como base os eixos: Diversidade e Igualdade, Direito a Comunicação, além do debate sobre Racismo e Igualdade e a democratização das mídias. Após as conferências, acontecerá um debate com a Secretaria Nacional de Juventude, sobre o Lúdico e a Identidade na disputa das Cidades. As conferências livres estão acontecendo desde maio deste ano em diversos estados, com o objetivo de construir propostas para serem discutidas na 3ª Conferência Nacional de Juventude, que acontecerá em dezembro, em Brasília, com a proposta de dialogar com a diversidade da juventude tendo como principal tema”As várias formas de mudar o Brasil”.

Serviço:
Conferência Livre de Juventude de Cresp@s, Comunicadorxs e Grafiteir@s
Quando: 20 de setembro 2015, às 13h
Onde: Cine Teatro Solar Boa Vista
Telefone: (71) 3116-2000


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Projeto Leva Cinema à Locais Remotos de Sussuarana na Periferia de Salvador.

"A nossa pretensão é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais, além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação."


No último domingo (13/09), iniciamos o projeto Cine Mídia Periférica, considerada como a sétima arte, o cinema também tem o poder de transmitir mensagens que ajudam na educação do indivíduo, através da promoção da cultura. Exibimos o filme “5x Favela Agora Por Nós Mesmos” em uma região ingrime da comunidade de Sussuarana, para aproximadamente 50 pessoas, de acordo com o Ministério da Cultura, 87% da população brasileira não frequenta as salas de exibição. Quando o assunto é comunidades de grande vulnerabilidade social, o acesso a esse tipo de lazer é dificultado pela falta de locais e recursos, o que justifica que boa parte dos moradores nunca tiveram a experiência de assistir a um filme coletivamente. Nas periferias, de fato não chegam politicas publicas, as que chegam, são somente o braço armado do governo.


Com o intuito de contribuir para mudança dessa realidade, em parceria com Grupos Culturais da Comunidades (GACCSS), Líderes Comunitários e o Estação Juventude, exibimos o filme que conta 5 diferentes histórias, contadas por jovens cineastas de favelas do Rio de Janeiro, cada roteiro tem uma relação direta com histórias vividas dentro das favelas, e com uma abordagem sutil, sobre as dificuldades existentes em cada local, e como elas podem acabar e serem resolvidas. A comunidade local recebeu bem a iniciativa, e no final da exibição, as criancinhas já perguntavam quando seria a próxima exibição, O lanche (pipoca e refrigerante) dos moradores foi garantido por doação de comerciantes locais.

A nossa pretensão é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais, além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação. Pretendemos exibir sessões quinzenais, com o objetivo de atingir todas as áreas remotas da comunidade. Os filmes a serem exibidos têm censura livre e temática voltada a questões sociais que servirão de base para discussões e outras atividades pela comunidade.


domingo, 13 de setembro de 2015

Por: Dugueto Shabazz - Nunca Desista de Seus Sonhos ou Sobre Quando EMICIDA Quase Morreu.

Quando contei esta história ao meu amigo Renan do Grupo Inquérito, ele ficou muito impressionado e indagou:
-E você não vai escrever sobre isso?
Ao que respondi:
-Ah, sei lá, mano! Não havia pensado nisso, você acha que daria um texto interessante?
E ele me disse:
-Claro! Porra, mano, imagina alguém pegar o metrô no final dos anos oitenta, em Nova Yorque, com o Jay-Z e ouvir ele dizendo algo assim.
E é esta a história que segue.


Era a festa de lançamento do single de um colega da música e muita gente importante da cena se mobilizou para estar presente no evento. Eu havia sido convidado para cantar uma música e estava feliz por fazer parte daquele momento. Após o show, colegas e amigos se confraternizavam entre tragos e tragadas. Eu tava com uma buchinha e tava bolando um pra fazer uma preza com a rapa também. Um maninho se aproximou de mim e após uma breve apresentação de si mesmo e um pequeno preâmbulo sobre a humildade, pediu um pouco pra bolar um pra ele. Dei-lhe uma porção, o que o fez muito contente, pois me agradeceu efusivamente. Baseados acesos, suco de maçã pra quem gosta e cerveja pra maioria, tinha até um whisky rolando no sapatinho. Eu e o mano engatamos em várias ideias: o rap, o dinheiro, a família, os dilemas de se tentar viver apenas de arte, afinal especialmente naquele momento da minha vida, a coisa que eu mais queria era não ter que trabalhar mais no abrigo para menores e me dedicar só ao rap. Falei sobre isso e o mano ouviu com atenção e condescendência. Da hora a conversa. Achei que havia feito um amigo. Porém, logo me despediria, pois no outro dia, bem cedo, teria que me apresentar ao meu plantão.

Naquele começo de fim de tarde eu já havia cumprido meu plantão e na hora do almoço já tinha chorado no sujo e fétido escadão da Patápio Silva, na Vila Madalena. Estava exausto. Talvez o começo de uma depressão estaria já, àquela altura, instalada na minha mente, âncoras no coração, calos nas vozes do espirito em auto flagelo. Na cabeça a única determinação: não beberia aos arredores da Benedito Calixto, localidade onde, inevitavelmente, encontraria algum conhecido. Estava avesso a encontros naquela tarde. Mas decerto que beberia. Duas ou três pingas, ou dois conhaques e uma pinga e quantas cervejas conseguisse beber e ainda tomar o ônibus para voltar pra casa.

Há semanas aquela era a minha forma de dar analgésico às dores que sentia na alma. Então, passei daquela altura da praça e avancei Teodoro Sampaio acima, à procura de um boteco mais discreto. Pensava no garoto de dois anos apenas, sendo rejeitado pelo casal gran fino após tentativa de adoção, pelo simples fato de que os poodles da madame não se “adaptaram” à criança. Quando a febre veio forte, levei-o ao pediatra e lá se examinaram ouvidos, garganta, pulmões e nos dias seguintes urina, fezes e sangue. A criança, outrora ativa e vigorosa, era constantemente acometida de febre alta e fadiga. Feitos todos os exames, veio o óbvio que já sabíamos: a criança tinha saúde excelente, mas estava tão triste que dava até febre. A rejeição virou uma angústia que foi somatizada. No abrigo municipal onde eu trabalhava, histórias tristes eram comuns, mas devido à ligação especial que eu tinha com o garoto, aquilo que feria a ele, parecia ferir a mim também. Pensava essas coisas no caminho, mas me sentia cansado para seguir andando, então decidi que pararia no próximo ponto e tomaria um ônibus. Talvez saltasse na Dr. Arnaldo e desceria a Cardeal Arcoverde, onde eu conhecia alguns botequinhos mais escondidos. Eis que, chegando no ponto onde tomaria o ônibus, avisto o MC com quem, na noite passada, dividi minhas histórias pessoais, minha intimidade, meu bagulho e ao lado dele, falando ao celular, outro Mc que já era muito reconhecido e comentado em nosso meio, mas que ainda não havia conquistado o que mais tarde conseguiria: sucesso e fama nacional e internacional. Esse MC era Leandro Roque, o Emicida. Ao cumprimentar meu recente amigo, vi que não éramos tão amigos e ele me tratou com muita indiferença, como se nem quisesse o fazer, como se não tivesse fumado quase todo meu bagulho a menos de 24 horas atrás, sob os pretextos da humildade. Emicida foi mais simpático, mesmo falando ao telefone, me cumprimentou. Pensei por um instante: 'por que as pessoas são assim, né? Tipo, dependendo da conveniência ou circunstância, tratam os outros desta ou daquela forma', mas enfim. Ironia do destino à parte, tomamos os três, o mesmo ônibus. Entrei, passei a catraca e me sentei do lado esquerdo, perto da porta de saída. Emicida e o outro mano sentaram paralelamente a mim.
Havia poucas pessoas. Ao encerrar a chamada, deu pra ouvir claramente Emicida exclamando:
-Eu não aguento mais, mano! Vou parar! É Sério, mano, pra mim não dá mais!
-Calma, Leandrinho! Você não pode parar agora! De todos nós, você é o mais bem preparado! Tá muito perto, irmão!
Dizia o outro, como um amigo que consola e anima.
-Perto de que, mano? Não vejo nada acontecer! E eu tô falando pra você, meu truta, se o bagulho continuar assim, eu vou parar! Simplesmente vou arrumar um trampinho aí qualquer, num Carrefour da vida e esquecer essa porra de rap de vez, mano!
E seguiu desabafando, olhar cansado abaixo do característico vínco formado entre suas sobrancelhas, naquela época muito mais acentuado, talvez devido à ansiedade e preocupação com sua própria sina: a de quem apostou tudo o que podia e o que não podia naquilo.
-Sabe o quanto que eu gastei de bilhete único esse mês, indo pra lá e pra cá na cidade, tentando fazer meu trampo virar, sem ter uma porra de uma moto nem nada? Tô levando marmita na bolsa junto com os cds e comendo comida fria na rua, jão! Tudo pra não gastar dinheiro! Ow, para, tio! Isso não é vida não, mano! É serio, porra! Vou parar com esse bagulho! Não aguento mais!

Eu acabei por descer do ônibus, eles seguiram, provavelmente para outra correria. Resolvi ir para casa sem beber naquela tarde e, enquanto caminhava, eu pensava:
- É, mano! Esse bagulho de rap não é fácil pra ninguém mesmo!
Meses depois, passei a ver constantemente o Emicida nos canais de mídia especializada e nos meios de comunicação mais influentes, assisti à sua carreira ser consolidada dentro e fora do Brasil. O resto vocês já sabem! O que talvez alguns de vocês não sabem é que eu também nunca abandonei completamente os palcos da vida e mesmo nos vários momentos em que pensei em desistir, a força do meu sonho atraiu alguma oportunidade boa pra mim e que fez com que eu me mantivesse fazendo o que amo. Conclui este texto num lugar muito especial de minha memória sentimental: a escadaria da Patápio Silva, na Vila Madalena, que deixou de ser um escadão sujo e fétido através das mãos hábeis do meu amigo, o artista Elcio Torres. Ganhou vida, cores e poemas de gente que não desistiu de seus sonhos mesmo durante as maiores adversidades. Dentre eles, um poema de minha autoria.
Gosto dos clichês, afinal se não houvesse nenhuma verdade neles, não teriam força para se tornarem clichês e um dos meus preferidos é: não desista de seus sonhos.

**Dugueto Shabazz é Ridson Mariano da Paixão. Tem 32 anos e é músico, escritor, poeta e arte educador.