quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Salvador (BA) realiza Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os desafios no mundo de trabalho”

Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os Desafios no Mundo do Trabalho” acontece nesta sexta (25/09), às 9h, no Centro Cultural da Câmara Municipal de Salvador (BA). Com a proposta de que jovens representantes do poder público, conselhos, organizações não governamentais e agências internacionais debatam sobre os possíveis caminhos para que as políticas aumentem sua contribuição a experiência de uma juventude plena de direitos.

O desemprego de jovens negros, principalmente na região nordeste, o processo de precarização do trabalho, que atinge os jovens e o pouco espaço que as propostas de geração de trabalho, renda e qualificação profissional tem tido no país, são questões a serem discutidas dentro do seminário.

Serviço:
O quê: Seminário “Juventude Negra de Terreiro e os Desafios no Mundo do Trabalho”
Onde: Centro Cultural da Câmara Municipal, Praça Tomé de Souza, Centro, Salvador (BA)
Quando: 25/09, das 9h às 17h.

Para fazer sua inscrição, clique aqui.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Filme Capitães da Areia será exibido na Baixa da Paz, em Sussuarana, neste domingo (27).

“A sessão de cinema aberta à comunidade faz parte do projeto Cine Mídia Periférica, idealizado pelo Grupo Mídia Periférica” 


No próximo domingo (27/09), o projeto Cine Mídia Periférica, irá exibir o filme “Capitães da Areia”, da cineasta Cecília Amado, para a comunidade da Baixa da Paz, localizada no bairro de Sussuarana. Esta será a segunda exibição de filmes promovida pelo projeto, que acaba envolvendo toda a comunidade. Com um telão e distribuição de pipoca e refrigerante, a ideia é proporcionar aos moradores um pouco da experiência de cinema. A única exigência é que cada morador leve seu banquinho, para colaborar com a atividade.

A segunda sessão se dá pelo sucesso que foi a primeira exibição, quando cerca de 50 pessoas se juntaram para assistir ao filme "5x Favela - Agora Por Nós Mesmos". A expectativa é que a próxima sessão possa levar 100 pessoas ao local. “Para o jovem de classe média, ir ao cinema pode ser um lazer rotineiro. Mas para a maioria das pessoas que mora nas periferias e não tem acesso à cultura, esse é um lazer quase raro, seja pela dificuldade de locomoção, seja por questões econômicas”, destacou o idealizador do projeto, o jovem Enderson Araújo.

A exibição do filme Capitães da Areia conta com a colaboração da cineasta Cecília Amado, que emprestou o filme, além da cooperação do “Grupos de Apoio Cultural da Comunidade de Sussuarana (GACCSS)”, do programa governamental Estação Juventude, que emprestou os equipamentos, e da produtora Tenda dos Milagres.

Sobre o filme

Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora, personagens imortalizados na obra de Jorge Amado, ganham as telonas do cinema em Capitães da Areia, filme assinado por Cecília Amado, neta do escritos baiano Jorge Amado. Assim como no romance publicado na década de 1930, a narrativa traz a história de um grupo de crianças e adolescentes abandonados por suas famílias que crescem nas ruas de Salvador, praticando assaltos, e fugindo da polícia enquanto lutam para sobreviver. Liderada por Pedro Bala, a trupe é conhecida por Capitães da Areia pela facilidade que tem de se camuflar sem deixar pistas e sem ser notada. Assim, ao longo de um ano, os garotos encaram diversas aventuras, realizando sonhos e vivendo reais pesadelos.

Sobre o Cine Mídia Periférica

O Cine Mídia Periférica é um projeto idealizado pelo Grupo Mídia Periférica. O objetivo é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais. Além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação. A ideia é exibir sessões quinzenais, com o objetivo de atingir todas as áreas da comunidade. Os filmes a serem exibidos têm temática voltada a questões sociais que servirão de base para discussões e outras atividades pela comunidade.

Serviço
Exibição do Filme Capitães da Areia
Data: 27 de Outubro
Horário: 17h
Local: Campo de Futebol, Baixa da Paz - Sussuarana
Contato: Enderson Araújo - 9220-2546

sábado, 19 de setembro de 2015

Emicida, Dandara Marques e Domenica Dias na Globo Falando Sobre o Racismo no Brasil. É Dedo na Ferida.

"Essa coisa de democracia racial no Brasil não existe, essa coisa foi inventada. A democracia racial no Brasil é assim, o táxi não para pro negro mas a viatura para"
Fotos: Reprodução do Facebook e Google.
O Rapper Emicida, foi o convidado do programa Altas Horas, da TV Globo, que foi ao nesse Sábado (19.09). O Programa tem um quadro, onde pessoas contam histórias reais vividas, no programa desse sábado, foi discutido o Racismo, na oportunidade, o Serginho Groisman bateu um papo com a jovem negra Pernambucana, Dandara Marques, que foi vitima de Discriminação Racial em uma rede social, após ter uma foto publicada por um paulista, com comentários do tipo "Me dê uma caixa de fósforos que faço progressiva nessa infeliz", se referindo aos cabelos de Dandara que também é gestora ambiental. Segundo Dandara, as palavras foram 'fortes'. "Eu sempre passei por isso, mas não de uma forma tão explícita assim. Ele me colocou numa situação muito aberta, numa rede social, todo mundo teve acesso a isso", comentou. Ao iniciar sua fala, Dandara explicou para o publico de auditório e os telespectadores, quem foi Dandara “Para quem não sabe, Dandara militante negra, guerreira aliada de Zumbi dos Palmares, eu fui e sou Dandara”. Leiam mais aqui: http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2015/09/pernambucana-e-vitima-de-comentarios-racistas-em-rede-social.html.

Antes de abrir o quadro onde discorreria a conversa com a Dandara, o apresentador fez uma pergunta sobre o racismo para uma garota que estava na plateia do programa, era a Domênica Dias, filha do Mano Brown, na oportunidade, o apresentador questionou a jovem, sobre o racismo, ela respondeu que o racismo é mais violento, quando voltado contra a mulher negra, ele tem uma força de destruição muito maior, mas podemos perceber isso nas produções das telenovelas, onde as mulheres negras aparecem como objetos de sexualização ou empregadas domesticas serviçais, poucas foram as que tiveram posição de poder.

Durante o programa, Serginho questionou o Emicida sobre as questões raciais no Brasil, algumas pessoas assistiam o programa mais para ouvir as rimas do Emicida ou ouvir os clássicos dos sambas de Jorge Aragão e Diogo Nogueira, mas o que impressionou de verdade foi ouvir “Passarinhos” uma das novas faixas do Emicida, e ouvir seus posicionamentos quanto ao Racismo, ao citar na sua primeira intervenção que o Brasil é um País Racista, pois mata 77% de jovens negros ao ano.

Já a sua segunda intervenção, vem depois que o também convidado Marcus Caruso - ator-branco-sabe-tudo - resolve falar sobre racismo e defender a democracia racial. Emicida tem que explicar pra ele:
1 - O Brasil é assim: Quando a miscigenação clareia, às pessoas aplaudem e quando escurece a sociedade condena. O racismo é perverso e cruel.
2 - Essa coisa de democracia racial no Brasil não existe, essa coisa foi inventada. A democracia racial no Brasil é assim, o táxi não para pro negro mas a viatura para...
O Artista foi aplaudido de pé, e citou que estamos em obras, acredito que ele se referia que o país ainda tem jeito, que a militância é essencial para mudar o cenário, ter pretos assumindo postos, o Rap entrando nas programações das grandes emissoras, é um avanço, porém os negros ainda incomodam, exemplo de Dandara ao estampar sua beleza negra. A branquitude é mesmo um lugar de poder. A branquitude é mesmo uma posição de privilégio.

Obrigado Dandara e Emicida e Domenica, vocês colocaram o Dedo na Ferida de um país racista, sexista, homofóbico e desleal com a sua maioria, que somos nós negros.

Texto: Enderson Araujo
Colaboração: Felipe Freitas

Conferências Livres: Crespas e Cacheadas, Grafiteirxs e Comunicadorxs

"As conferências livres estão acontecendo desde maio deste ano em diversos estados, com o objetivo de construir propostas para serem discutidas na 3ª Conferência Nacional de Juventude, que acontecerá em dezembro, em Brasília".


As Conferências Livres de Juventude “Crespas e Cacheadas”, “Grafiteiras e Grafiteiros” e“Comunicadoras e Comunicadores” é uma iniciativa para a discussão de Políticas Públicas de Juventude (PPJ) a partir do ponto de vista inovador destes setores. O objetivo é fomentar os debate que norteiam as politicas de juventude, entre grupos que não costumam disputar espaços tradicionais da política, mas organizam uma importante intervenção nos espaços em que militam. As conferências acontecerão no Cine-Teatro Solar Boa Vista, na comunidade do Engenho Velho de Brotas, no dia 20 de setembro, e será seguido de um debate com a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) sobre “O lúdico e a identidade na disputa das cidades”.

A juventude de Salvador, sofre de uma profunda carência de políticas públicas específicas. Recentemente foi criada uma Sub-Coordenação de Juventude, vinculada à Secretaria de Promoção Social, mas que ainda não se consolidou como um instrumento para apropriação das e dos jovens da cidade. Além disso, a ausência de políticas públicas nas áreas de Direito à Cultura, Direito à Cidade e Direito à Comunicação, bem como as péssimas condições de mobilidade e a forte presença da violência urbana, através dos conflitos entre facções do tráfico e da intervenção desastrosa da Polícia Militar, são elementos que apontam um contexto de muita dificuldade para o desenvolvimento da cidadania da juventude de Salvador. Também não existe na cidade mecanismos efetivos de participação social, não existindo Conselho Municipal de Juventude e uma presença muito inexpressiva de jovens nos conselhos existentes, a exemplo do de Mulheres e de Saúde.

Por outro lado, a juventude soteropolitana transborda capacidade de resistência e subversão das condições precárias de convívio social, em forças produtivas voltadas tanto para o trabalho/sobrevivência, quanto para a produção de cultura e formas alternativas de organização. Grupos musicais, bandos de teatro, grupos de poesia itinerantes, jovens engajados e engajadas na arte urbana, nos esportes, na cultura de modo geral, produzem resistência ao ocupar os espaços públicos da cidade com suas expressões e múltiplas identidades.

Enderson Araújo é Co - Fundador do Mídia Periférica.
A juventude soteropolitana é uma síntese entre o velho e o novo, entre a resistência e a ousadia, entre a memória e a projeção de novas perspectivas de futuro. É preciso que este setor seja encarado como estratégico na construção de um projeto de cidade e, a partir de seus territórios, contribuam para a elaboração de políticas públicas de juventude em todo o país.

Nesta etapa, os participantes discutirão sobre os desafios da juventude negra, tendo como base os eixos: Diversidade e Igualdade, Direito a Comunicação, além do debate sobre Racismo e Igualdade e a democratização das mídias. Após as conferências, acontecerá um debate com a Secretaria Nacional de Juventude, sobre o Lúdico e a Identidade na disputa das Cidades. As conferências livres estão acontecendo desde maio deste ano em diversos estados, com o objetivo de construir propostas para serem discutidas na 3ª Conferência Nacional de Juventude, que acontecerá em dezembro, em Brasília, com a proposta de dialogar com a diversidade da juventude tendo como principal tema”As várias formas de mudar o Brasil”.

Serviço:
Conferência Livre de Juventude de Cresp@s, Comunicadorxs e Grafiteir@s
Quando: 20 de setembro 2015, às 13h
Onde: Cine Teatro Solar Boa Vista
Telefone: (71) 3116-2000


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Projeto Leva Cinema à Locais Remotos de Sussuarana na Periferia de Salvador.

"A nossa pretensão é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais, além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação."


No último domingo (13/09), iniciamos o projeto Cine Mídia Periférica, considerada como a sétima arte, o cinema também tem o poder de transmitir mensagens que ajudam na educação do indivíduo, através da promoção da cultura. Exibimos o filme “5x Favela Agora Por Nós Mesmos” em uma região ingrime da comunidade de Sussuarana, para aproximadamente 50 pessoas, de acordo com o Ministério da Cultura, 87% da população brasileira não frequenta as salas de exibição. Quando o assunto é comunidades de grande vulnerabilidade social, o acesso a esse tipo de lazer é dificultado pela falta de locais e recursos, o que justifica que boa parte dos moradores nunca tiveram a experiência de assistir a um filme coletivamente. Nas periferias, de fato não chegam politicas publicas, as que chegam, são somente o braço armado do governo.


Com o intuito de contribuir para mudança dessa realidade, em parceria com Grupos Culturais da Comunidades (GACCSS), Líderes Comunitários e o Estação Juventude, exibimos o filme que conta 5 diferentes histórias, contadas por jovens cineastas de favelas do Rio de Janeiro, cada roteiro tem uma relação direta com histórias vividas dentro das favelas, e com uma abordagem sutil, sobre as dificuldades existentes em cada local, e como elas podem acabar e serem resolvidas. A comunidade local recebeu bem a iniciativa, e no final da exibição, as criancinhas já perguntavam quando seria a próxima exibição, O lanche (pipoca e refrigerante) dos moradores foi garantido por doação de comerciantes locais.

A nossa pretensão é rodar por vários locais da comunidade, levando diferentes filmes e aproximando a cultura para as pessoas desses locais, além disso, a iniciativa tem o intuito de igualar os direitos de acesso à cultura, educação e comunicação. Pretendemos exibir sessões quinzenais, com o objetivo de atingir todas as áreas remotas da comunidade. Os filmes a serem exibidos têm censura livre e temática voltada a questões sociais que servirão de base para discussões e outras atividades pela comunidade.


domingo, 13 de setembro de 2015

Por: Dugueto Shabazz - Nunca Desista de Seus Sonhos ou Sobre Quando EMICIDA Quase Morreu.

Quando contei esta história ao meu amigo Renan do Grupo Inquérito, ele ficou muito impressionado e indagou:
-E você não vai escrever sobre isso?
Ao que respondi:
-Ah, sei lá, mano! Não havia pensado nisso, você acha que daria um texto interessante?
E ele me disse:
-Claro! Porra, mano, imagina alguém pegar o metrô no final dos anos oitenta, em Nova Yorque, com o Jay-Z e ouvir ele dizendo algo assim.
E é esta a história que segue.


Era a festa de lançamento do single de um colega da música e muita gente importante da cena se mobilizou para estar presente no evento. Eu havia sido convidado para cantar uma música e estava feliz por fazer parte daquele momento. Após o show, colegas e amigos se confraternizavam entre tragos e tragadas. Eu tava com uma buchinha e tava bolando um pra fazer uma preza com a rapa também. Um maninho se aproximou de mim e após uma breve apresentação de si mesmo e um pequeno preâmbulo sobre a humildade, pediu um pouco pra bolar um pra ele. Dei-lhe uma porção, o que o fez muito contente, pois me agradeceu efusivamente. Baseados acesos, suco de maçã pra quem gosta e cerveja pra maioria, tinha até um whisky rolando no sapatinho. Eu e o mano engatamos em várias ideias: o rap, o dinheiro, a família, os dilemas de se tentar viver apenas de arte, afinal especialmente naquele momento da minha vida, a coisa que eu mais queria era não ter que trabalhar mais no abrigo para menores e me dedicar só ao rap. Falei sobre isso e o mano ouviu com atenção e condescendência. Da hora a conversa. Achei que havia feito um amigo. Porém, logo me despediria, pois no outro dia, bem cedo, teria que me apresentar ao meu plantão.

Naquele começo de fim de tarde eu já havia cumprido meu plantão e na hora do almoço já tinha chorado no sujo e fétido escadão da Patápio Silva, na Vila Madalena. Estava exausto. Talvez o começo de uma depressão estaria já, àquela altura, instalada na minha mente, âncoras no coração, calos nas vozes do espirito em auto flagelo. Na cabeça a única determinação: não beberia aos arredores da Benedito Calixto, localidade onde, inevitavelmente, encontraria algum conhecido. Estava avesso a encontros naquela tarde. Mas decerto que beberia. Duas ou três pingas, ou dois conhaques e uma pinga e quantas cervejas conseguisse beber e ainda tomar o ônibus para voltar pra casa.

Há semanas aquela era a minha forma de dar analgésico às dores que sentia na alma. Então, passei daquela altura da praça e avancei Teodoro Sampaio acima, à procura de um boteco mais discreto. Pensava no garoto de dois anos apenas, sendo rejeitado pelo casal gran fino após tentativa de adoção, pelo simples fato de que os poodles da madame não se “adaptaram” à criança. Quando a febre veio forte, levei-o ao pediatra e lá se examinaram ouvidos, garganta, pulmões e nos dias seguintes urina, fezes e sangue. A criança, outrora ativa e vigorosa, era constantemente acometida de febre alta e fadiga. Feitos todos os exames, veio o óbvio que já sabíamos: a criança tinha saúde excelente, mas estava tão triste que dava até febre. A rejeição virou uma angústia que foi somatizada. No abrigo municipal onde eu trabalhava, histórias tristes eram comuns, mas devido à ligação especial que eu tinha com o garoto, aquilo que feria a ele, parecia ferir a mim também. Pensava essas coisas no caminho, mas me sentia cansado para seguir andando, então decidi que pararia no próximo ponto e tomaria um ônibus. Talvez saltasse na Dr. Arnaldo e desceria a Cardeal Arcoverde, onde eu conhecia alguns botequinhos mais escondidos. Eis que, chegando no ponto onde tomaria o ônibus, avisto o MC com quem, na noite passada, dividi minhas histórias pessoais, minha intimidade, meu bagulho e ao lado dele, falando ao celular, outro Mc que já era muito reconhecido e comentado em nosso meio, mas que ainda não havia conquistado o que mais tarde conseguiria: sucesso e fama nacional e internacional. Esse MC era Leandro Roque, o Emicida. Ao cumprimentar meu recente amigo, vi que não éramos tão amigos e ele me tratou com muita indiferença, como se nem quisesse o fazer, como se não tivesse fumado quase todo meu bagulho a menos de 24 horas atrás, sob os pretextos da humildade. Emicida foi mais simpático, mesmo falando ao telefone, me cumprimentou. Pensei por um instante: 'por que as pessoas são assim, né? Tipo, dependendo da conveniência ou circunstância, tratam os outros desta ou daquela forma', mas enfim. Ironia do destino à parte, tomamos os três, o mesmo ônibus. Entrei, passei a catraca e me sentei do lado esquerdo, perto da porta de saída. Emicida e o outro mano sentaram paralelamente a mim.
Havia poucas pessoas. Ao encerrar a chamada, deu pra ouvir claramente Emicida exclamando:
-Eu não aguento mais, mano! Vou parar! É Sério, mano, pra mim não dá mais!
-Calma, Leandrinho! Você não pode parar agora! De todos nós, você é o mais bem preparado! Tá muito perto, irmão!
Dizia o outro, como um amigo que consola e anima.
-Perto de que, mano? Não vejo nada acontecer! E eu tô falando pra você, meu truta, se o bagulho continuar assim, eu vou parar! Simplesmente vou arrumar um trampinho aí qualquer, num Carrefour da vida e esquecer essa porra de rap de vez, mano!
E seguiu desabafando, olhar cansado abaixo do característico vínco formado entre suas sobrancelhas, naquela época muito mais acentuado, talvez devido à ansiedade e preocupação com sua própria sina: a de quem apostou tudo o que podia e o que não podia naquilo.
-Sabe o quanto que eu gastei de bilhete único esse mês, indo pra lá e pra cá na cidade, tentando fazer meu trampo virar, sem ter uma porra de uma moto nem nada? Tô levando marmita na bolsa junto com os cds e comendo comida fria na rua, jão! Tudo pra não gastar dinheiro! Ow, para, tio! Isso não é vida não, mano! É serio, porra! Vou parar com esse bagulho! Não aguento mais!

Eu acabei por descer do ônibus, eles seguiram, provavelmente para outra correria. Resolvi ir para casa sem beber naquela tarde e, enquanto caminhava, eu pensava:
- É, mano! Esse bagulho de rap não é fácil pra ninguém mesmo!
Meses depois, passei a ver constantemente o Emicida nos canais de mídia especializada e nos meios de comunicação mais influentes, assisti à sua carreira ser consolidada dentro e fora do Brasil. O resto vocês já sabem! O que talvez alguns de vocês não sabem é que eu também nunca abandonei completamente os palcos da vida e mesmo nos vários momentos em que pensei em desistir, a força do meu sonho atraiu alguma oportunidade boa pra mim e que fez com que eu me mantivesse fazendo o que amo. Conclui este texto num lugar muito especial de minha memória sentimental: a escadaria da Patápio Silva, na Vila Madalena, que deixou de ser um escadão sujo e fétido através das mãos hábeis do meu amigo, o artista Elcio Torres. Ganhou vida, cores e poemas de gente que não desistiu de seus sonhos mesmo durante as maiores adversidades. Dentre eles, um poema de minha autoria.
Gosto dos clichês, afinal se não houvesse nenhuma verdade neles, não teriam força para se tornarem clichês e um dos meus preferidos é: não desista de seus sonhos.

**Dugueto Shabazz é Ridson Mariano da Paixão. Tem 32 anos e é músico, escritor, poeta e arte educador.

sábado, 12 de setembro de 2015

Cine Mídia Periférica leva filmes para as quebradas de Sussuarana, em Salvador.

Uma Parceria do Mídia Periférica, com grupos da comunidade e a Coordenadoria de Juventude do Estado, visa levar filmes e bate papos, para locais remotos da comunidade de Sussuarana, o Projeto Cine Mídia Periférica é uma iniciativa do grupo de comunicadores, que veem através da ideia, uma maneira de aproximar os moradores de áreas remotas da comunidade, com a beleza que é o cinema.

A Estréia será com o filme “5x Favela - Agora por Nós Mesmos” trata-se de um Filme Brasileiro dirigido por grupo de jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro e produzido por Carlos Diegues e Renata de Almeida Magalhães. O filme é dividido em cinco episódios, dai vem o titulo do longa-metragem e também fazendo referência ao filme Cinco Vezes favela (1962). 5x Favela - Agora por Nós Mesmos é o primeiro longa-metragem brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens moradores de favelas.

O Local da primeira exibição será na Rua Fabrício Magalhães, transversal a Rua Samuel, localizada em Sussuarana Velha. A escolha do local se deu por conta, do pessoal que mora em áreas mais remotas não terem acesso ao cinema, por conta da discriminação sofrida e muitas vezes por baixa estima de frequentarem os cinemas nos shoppings das cidades, então levar o cinema para essa galera, é a solução encontrada, para aproximar o entretenimento.

Serviço:
Cine Mídia Periférica
Filme: 5xFavela, Agora por nós mesmos
Data: 13 de Setembro de 2015
Local: Rua Fabrício Magalhães, Transversal a rua Samuel, Sussuarana Velha.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Camaçari (BA) realiza a sua 3ª Conferência de Juventude

Além de contribuir com encaminhamentos que serão levados para as próximas etapas (estadual, regional e nacional) e servirão de subsídio para a identificação das demandas locais e construção do Plano Municipal de Juventude.


Na última sexta-feira (04) foram realizadas as atividades da 3ª Conferência Municipal de Juventude da cidade de Camaçari (BA), no Teatro Alberto Martins. O debate foi centralizado no tema “As várias formas de mudar Camaçari e o Brasil” e na construção de políticas públicas que contemplem os eixos temáticos do Estatuto da Juventude.

Participação e controle social; representatividade e protagonismo juvenil; diversidade; igualdade; combate ao racismo e às opressões; e cidadania foram os principais temas discutidos. A Conferência também contou com dois espaços paralelos, fortalecendo o debate nos eixos: “Combate ao extermínio da juventude negra” e “Mobilidade urbana e direito à cidade”. 

O evento contou com a participação de mais de 250 pessoas, entre os períodos da manhã e tarde, em sua maioria jovens estudantes, da cidade e da zona rural, de diferentes segmentos e entidades, que destacaram a importância de construir e ocupar espaços como esse. Além de contribuir com encaminhamentos que serão levados para as próximas etapas (estadual, regional e nacional) e servirão de subsídio para a identificação das demandas locais e construção do Plano Municipal de Juventude.

Na oportunidade, foram apresentados os resultados do processo de mobilização das pré-conferências, que aconteceram entre 11 e 27 de agosto. E, eleitos 12 delegados, correspondendo à representatividade de 60% da sociedade civil, que irão representar o município juntamente com os 8 do poder público (40%).

Esta etapa foi realizada em conjunto pela Secretaria da Cidadania e Inclusão (Secin), Coordenadoria de Juventude (Cojuv), e pelo Conselho Municipal de Juventude. Também estiveram presentes o prefeito Ademar Delgado, secretários (de Educação, do Esporte e Lazer, da Cultura e da Mulher) e outros representantes do poder público.

A participação juvenil é um direito fundamental, por isso a construção de espaços como este se faz necessária para incluir a juventude nas discussões políticas que influenciam os rumos da sociedade.

Textos e fotos: Bruna Calazans